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Paciente oncológico, atenção aos cuidados bucais!

Em entrevista para o nosso portal, Dr. Luis Marcelo Sêneda fala sobre a importância de manter a saúde da boca em dia

Os cuidados bucais no pré-tratamento oncológico são essenciais para que o paciente possa ter qualidade de vida e também apresente melhores resultados na terapêutica aplicada.

Conversamos com o Dr. Luis Marcelo Sêneda, coordenador do Serviço de Medicina Bucal no Hospital BP Mirante, que falou sobre os diferentes pontos de atenção para a boca de todos aqueles que estão na luta contra o câncer. Confira!

Avaliação bucal no pré-tratamento

É preciso verificar se há a presença de possível foco de infecção nesta região, que poderá comprometer o tratamento em uma fase de imunossupressão. Portanto, é de grande relevância realizar procedimentos odontológicos prévios para iniciar o tratamento oncológico com a boca nas melhores condições possíveis.

Mucosite

Este é um efeito colateral importante e muito comum de ocorrer no tratamento oncológico, muitas vezes, piorando a qualidade de vida do paciente. Cabe ressaltar que nem todas as drogas quimioterápicas têm a capacidade de induzir a manifestação de quadro clínico. Algumas, como MTX e 5FU, por exemplo, têm um maior potencial para promoção da mucosite. Em tumores sólidos da região de cabeça e pescoço, quando o paciente recebe quimioterapia e radioterapia associados, a mucosite é muito comum de acontecer, assim como em transplantes de medula óssea.

A prevenção é essencial. Ela inicia-se com uma boa avaliação clínica, orientação do paciente sobre os possíveis efeitos colaterais do tratamento, prescrição de produtos específicos para uso de higiene e lubrificação da mucosa bucal, e remoção de focos de infecção presentes. A laserterapia de baixa intensidade também tem se mostrado muito efetiva na prevenção da mucosite oral.

Veja mais informações na matéria Mucosite? Laserterapia é o remédio

Mudanças na cor e textura dos dentes

Dependendo da idade em que foi realizado o tratamento oncológico, como na infância, a dentição permanente pode sofrer alterações que irão se manifestar tardiamente. Elas podem ser: não formação dentária, alterações de tamanho e forma do dente, não formação da raiz dentária, dentre outras. Alguns produtos utilizados para bochechos, como a clorexidine, podem pigmentar o esmalte dentário de uma cor castanha. Mas isso é facilmente removido com o procedimento de raspagem e profilaxia dentária.

Infecções oportunistas

Durante a imunossupressão, quadros crônicos de infecção bucal podem agudizar, colocando o paciente em risco de desenvolver uma septicemia. A redução tanto em quantidade quanto em qualidade da saliva também pode favorecer o crescimento de fungo (sapinho) na cavidade bucal, além de doenças virais, como, por exemplo, o herpes. Estas são as chamadas infecções oportunistas, nas quais o microorganismo, frente à redução da imunidade do paciente, vê a oportunidade para se manifestar. A radioterapia para região da cabeça e pescoço pode, ainda, apresentar manifestações tardias, como cárie de irradiação.

Infecções dentárias podem conduzir a necessidade de interrupção do tratamento que o paciente vem recebendo e, em alguns casos, alterar o plano de tratamento que está sendo realizado.

Cárie de irradiação

Pode ocorrer em pacientes que recebem tratamento radioterápico em campo que envolve a cavidade bucal. Além da irradiação, a secura da boca associada ao tratamento favorece o aparecimento deste tipo característico de cárie, que inicia com alteração do esmalte dentário, e destrói o dente de forma bastante acelerada. Geralmente ela inicia-se na região de colo dentário (região logo acima da gengiva).

Tratamento dentário durante o tratamento oncológico

Como mencionado anteriormente, o ideal é realizar os cuidados com a boca sempre preventivamente, ou seja, antes de iniciar o tratamento oncológico. Quando isso não for possível, alguns tratamentos como restauração dentária, profilaxia, remoção de tártaro acima do nível de gengiva, podem ser realizados. Porém, em pacientes que se encontrem em imunossupressão, é temeroso realizar procedimentos mais invasivos, pois fica aumentado o risco de sangramento, nos casos de plaquetopenia, e riscos de infecções oportunistas.

É importante que o tratamento seja interdisciplinar, quando o dentista e o médico condutor devem estar em comunicação efetiva, trabalhando para reduzir ao máximo os riscos para o paciente. Nestas situações, muitas vezes procedimentos quimioterápicos podem ser interrompidos, necessitamos utilizar coberturas antibióticas, avaliar exames tais como o hemograma do paciente, e intervir pontualmente para se resolver o problema em questão.

Aparelho ortodôntico

Geralmente, pacientes oncológicos já estão realizando o tratamento ortodôntico previamente ao diagnóstico. Muitas vezes, o que temos que fazer é conversar com o profissional que conduz o tratamento, orientando a remover o aparelho. Isso porque, em muitos casos, devido à mucosite, por exemplo, o aparelho pode ferir ainda mais a mucosa. Além de promover dor e sangramento local, piorando a qualidade de vida do paciente.

Leucemias agudas e cuidados bucais

Os cuidados com os pacientes nesta condição clínica são os mesmos aplicados aos outros tipos de doença oncológica. Remoção de possíveis focos de infecção antes de iniciar o tratamento, evitar procedimentos invasivos, orientações de cuidados para manutenção da saúde e higiene bucal durante todo o período e, se possível, avaliação bucal periódica. Lembrando, mais uma vez, que a comunicação médico/dentista/paciente deve ser clara e efetiva o tempo todo.

Mieloma múltiplo e a questão óssea dos dentes

Esta é uma condição patológica que exige um cuidado extra. O fato da doença acometer osso, não significa automaticamente risco de perder os dentes. Mas os pacientes com mieloma múltiplo comumente fazem uso de medicamentos que podem alterar o metabolismo ósseo, dificultando a cicatrização após cirurgias. E, em muitos casos, podem evoluir para necrose do tecido ósseo traumatizado. Por isso, é de extrema importância, ao receber um paciente nesta condição clínica, realizar uma boa avaliação clínica, questionando sobre o uso de medicamentos tais como Zometa, Denosumabe entre outros que atuam no metabolismo ósseo.

Para este tipo de paciente fica contraindicado colocação de implantes e extrações dentárias. Claro que sempre existem exceções, como quando o quadro infeccioso já existe. O fato de realizar a extração dentária não vai alterar a evolução do quadro clínico. Mas condições assim, são sempre pontuais e muito específicas.

Prevenção como principal aliada

É importante o paciente ter o conhecimento e a compreensão de tudo o que pode acontecer durante o tratamento que irá receber, pois a informação possibilita dividir responsabilidades. E também trazer maior tranquilidade quando algum efeito colateral ocorra e reduzir riscos e desconfortos. Acredito que o tratamento interdisciplinar é de suma importância para o sucesso do tratamento como um todo.

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